Anderson Luís Nunes da Mata
É professor de teoria literária da Universidade de Brasília e editor assistente da revista estudos de literatura brasileira contemporânea. Publicou os livros O silêncio das crianças: representações da infância na narrativa brasileira contemporânea (Eduel, 2010) e Fora do retrato: estudos de literatura brasileira contemporânea (organização com Regina Dalcastagnè; Horizonte, 2012).
Contato: amata@unb.br
Projeto de pesquisa
As múltiplas margens do campo literário
Os estudos sobre a ficção são frequentemente recortados pelo problema do valor literário, seja nos comentários inseridos nos próprios textos literários, seja na crítica e na teoria. Tal problema é colocado sob uma perspectiva menos de reconstrução de uma escala de valores e mais de um diagnóstico objetivo do problema na modernidade nos estudos de Pierre Bourdieu (2000) e de Pascale Casanova (2001) sobre o campo literário. A questão do valor, então, passa a ser encarada por Pierre Bourdieu como variável que é construída a partir das relações que se estabeleceram historicamente e são reestabelecidas em cada recorte da história desse campo por seus diversos agentes, tais como os produtores – escritores e editores –, os mediadores – livreiros , os comentadores – críticos literários, professores e pesquisadores de literatura – e os receptores - leitores em geral. O campo, no entanto, contém suas subdivisões – algumas radicais – em que determinados nichos coexistem no espaço da livraria, mas pouco compartilham em termos de leitores e de atenção dos comentadores.
A partir da delimitação desses nichos, flagram-se as diferentes estratégias comerciais das casas e selos editoriais na seleção de seu público-alvo. Tais estratégias se cruzam com os mecanismos de legitimação que cada uma delas constrói para si na divulgação, mas também, evidentemente, na seleção do tipo de texto e do elenco de autores que publica. Compreender essas estratégias é o objetivo geral desse projeto de pesquisa, que se voltará especificamente sobre os projetos de construção de valor de obras, autores e casas editoriais.
Nesse sentido, há diversos fenômenos que se pretende observar, como aquele que posiciona em campos distintos, mas nem sempre opostos, as chamadas altas literaturas e as literaturas de massa, ou de entretenimento. Da mesma forma há outros processos de marginalização que merecem atenção sob esse mesmo olhar, como os selos editoriais voltados não para o grande público, mas para parcelas específicas desse público com interesses localizados, como a literatura infantil, a chamada chick lit, a literatura gay e lésbica, a literatura espírita, entre outras. Como parte desse mesmo fenômeno, há o surgimento de editoras, selos editoriais e projetos literários que se submetem a esse mercado de valores literários e que também o submetem, na condição de agentes do campo.
Esses movimentos dos agentes do campo literário serão observados sob a perspectiva de o que Shohat e Stam denominam, para explorar as múltiplas margens do multiculturalismo, como policentrismo (2004). Aqui o conceito é aproveitado para pensar não só o multiculturalismo nos termos dos autores, mas também para determinar as margens do e no campo, considerando a coexistência de diversos fenômenos, e o fato de, na relação entre eles, a depender do aspecto analisado, determinada obra, autor, gênero ou editora poder se constituir como central ou periférica.
Textos
À deriva: espaço e movimento em Bernardo Carvalho
O caminho do mar: processo de subjetivação nos personagens de Abril despedaçado
A América Latina e a diferença colonial: a doença da imigração na obra de Santiago Gamboa
Marcelo Mirisola – Joana a contragosto (resenha)
Elvira Vigna – O que deu pra fazer em matéria de história de amor (resenha)